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Clichê

O que é, como evitar, quando usar

Não há fórmulas para a escrita, considerada em si uma arte. Evidentemente, porém, qualquer arte é resultado de séculos de convenção social, então há alguns elementos que são desejáveis e outros que são inaceitáveis num bom texto. Vamos falar aqui de um dos “pecados” da escrita: o clichê.

Clichê é uma construção utilizada à exaustão em determinada cultura, como o desenho do coração ou do cupido. Exatamente por essa repetição, ela é uma construção desgastada.



Quando se fala de textos criativos, devemos fugir do clichê como se foge de uma praga, dizem os mestres. E o clichê é, realmente, como um inseto que está em nossas frases, em nossas cenas, em nossas metáforas, em nossos personagens, em nosso desfecho, enfim, pode-se ter um texto todo clichê, o que é desastroso, quando não é intencional, ou apenas frases e construções clichês. Vejamos alguns exemplos:


Abriu com chave de ouro.

Aquela era a mulher mais linda que conheci.

O futebol é uma caixinha de surpresas.



O professor Luiz Antonio de Assis Brasil costuma dizer que um personagem ir para a janela ou ver uma fotografia são cenas absolutamente clichês. Assim como começar um conto escrevendo "era uma noite escura e chuvosa".

Claro que o conceito de clichê varia de acordo com o público para o qual se escreve, pois a experiência de leitura é fundamental para determinar onde começa o clichê. É importante, porém, entender que a fuga do lugar-comum vai além do todo, chegando a suas partes, a suas metáforas, a suas frases.

O problema do clichê é que ele não acrescenta ao leitor. Basta lembrarmos de uma novela da Globo, uma dessas quaisquer, repleta de clichês. Elas podem até nos distrair por algumas horas, mas as esquecemos quase completamente tão logo desligamos a TV (e aquelas que permanecem em nossa memória, um "Irmãos Coragem", "Pecado Capital", "Vale Tudo", é porque souberam inovar e não ficaram repetindo-se em clichês).

Quando usar o clichê

O clichê pode ser muito útil para a comédia, como dito anteriormente, e também para a criação de personagens estereotipadas. Cuide, porém, a funcionalidade de uma personagem estereotipada em sua narrativa caso não se trate de uma comédia: o crente religioso, o guarda de trânsito intransigente, o bandido, etc. Embora nem todas as personagens precisem ser esféricas, é importante que cada personagem seja necessário para a narrativa.

Uma técnica para evitar o clichê

Uma técnica para usar o clichê é desculpar-se pelo clichê, de forma direta ou indireta. Por exemplo: "Como diria o poeta, beleza é fundamental" ou "Como diriam os mais velhos, o futebol é uma caixinha de surpresa" ou "Com o perdão do clichê, era a mulher mais linda que já conheci". Tal técnica funciona muito bem em textos dissertativos, quando se pode lançar mão de ditos populares.

Um exemplo célebre dessa técnica de esquiva está em "O caçador de pipas":

Um professor de redação literária que tive na San Jose State sempre dizia, referindo-se aos clichês: "Tratem de evitá-los como se evita uma praga." E ria da própria piada. A turma toda ria junto com ele, mas sempre achei que aquilo era uma tremenda injustiça. Porque, muitas vezes, eles são de uma precisão impressionante. O problema é que a adequação das expressões-clichê é ofuscada pela natureza da expressão enquanto clichê. Por exemplo, aquela história do "esqueleto no armário". Nada melhor para descrever os momentos iniciais do meu encontro com Rahim Khan.
O caçador de pipas, Khaled Hosseini, cap XV


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Marcelo Spalding

 

 

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