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O que faz um livro ter êxito em concursos literários? Entrevista com três finalistas do Prêmio Jabuti

Os concursos literários costumam estar na lista dos maiores sonhos e objetivos de muitos escritores. As razões são inúmeras: se o escritor ganha, obtém reconhecimento da crítica e do meio literário, é publicado por uma grande editora, muitas vezes ganha prêmio em dinheiro, entre outras coisas que dependem de cada concurso.

Entrevistamos três escritores que em 2021 ficaram entre os finalistas do Prêmio Jabuti de Literatura: Marcelo Spalding e Adriana Maschmann, autores do livro “Clube do Rock”, e Mario Pool, autor de “O vizinho alemão”. Spalding é o diretor do Curso de Formação de Escritores, e a Adriana e o Mario foram participantes do curso.




A partir das respostas dos entrevistados, podemos concluir que é um conjunto de fatores, como planejamento; experiência com a escrita e em concursos; dedicação em construir uma obra de qualidade, independentemente de concursos. Além disso, é importante deixar a pressa e a ansiedade de lado para se dedicar a um trabalho de valor. Focar em concursos que tenham a ver com a sua escrita e seu público também colabora no processo.

Confira a entrevista na íntegra:

Você acabou de ser finalista de um dos maiores concursos literários do país, o Jabuti. Em algum momento da escrita do seu livro, algo foi pensado ou planejado tendo em vista esse ou outros concursos?

Adriana: O Prêmio Jabuti é uma das maiores referências literárias do país. Então quem não gostaria de ficar entre os finalistas? Mas o Clube do Rock surgiu de uma parceria e de duas vontades de escrever um livro a quatro mãos. No início do projeto, estávamos mais interessados em contar uma boa história e ver como isso iria ficar. E a nossa dupla (eu e o Marcelo Spalding) conseguiu desenvolver a narrativa de uma forma muito interessante, apesar de envolver temas bastante delicados. O processo de escrita já havia sido bom e, quando li o texto pronto, fiquei muito empolgada. O livro mexia comigo. E o Prêmio Jabuti? Bem, gostamos tanto do resultado que o caminho da inscrição consolidou o desejo de participar do concurso. Embora o livro não tenha sido pensado ou planejado para essa finalidade, nós acreditamos na história da Cássia e do Nando. Assim, inscrevê-lo foi uma consequência natural em função do retorno dado pelos leitores. E aí, pensamos: “por que não?”

Marcelo: A gente nunca pode escrever pensando em prêmio, reconhecimento, mas esses prêmios mais institucionais buscam no texto aquelas características que trabalhamos na academia, nas oficinas: subtexto, intensidade, concisão, polissemia. Além de estarem muito atentos a temas sociais contemporâneos, candentes e necessários. E acho que “Clube do Rock” tem tudo isso, além de um manejo com técnicas linguísticas como gêneros textuais variados, polifonia e troca de narrador que funcionam muito bem.

Mario: Somente nos últimos 3 anos é que comecei a inscrever meus livros em concursos, por não conhecer muito bem essa dinâmica dos concursos literários. A única atenção que detive ao escrever os últimos livros foi quanto ao gênero literário e a algumas questões técnicas exigidas nas regras dos concursos, como o ano da publicação e o número mínimo de páginas, essas coisas. Já quanto a narrativa e ao tema, isso nunca foi pensado para dar conta de concursos, o livro que foi indicado agora para o Prêmio Jabuti, “O vizinho alemão” não estava na minha expectativa. Geralmente lanço dois livros por ano, eu apostava mais na inscrição do romance adulto que também havia sido inscrito do que na novela juvenil que foi finalista. Mas concurso é sempre uma loteria, depende de quem julga o teu trabalho. Esses mesmos livros foram inscritos em dois concursos menores aqui do Rio Grande do Sul e sequer figuraram na lista dos candidatos selecionados. Já no concurso da ABERST de São Paulo, os dois livros foram finalistas. Penso que o escritor precisa estar livre para escrever, ser finalista ou ganhador de prêmios é uma consequência boa, mas não deve ser o objetivo para iniciar a escrever uma obra. A cabeça e as ideias de um escritor valem muito mais do que os prêmios.

Você acredita que ter participado de concursos anteriores tenha ajudado a chegar neste resultado? Por quê?

Adriana: Participar de concursos literários é sempre interessante porque, além da possibilidade da premiação, eles trazem experiência. Com relação ao meu processo de escrita, quando inicio um projeto, dou prioridade à narrativa e sua construção. Faço pesquisas, experimentos e ouço a opinião de outras pessoas a respeito do assunto. É um trabalho consciente, feito de escolhas pessoais e, ao mesmo tempo, pensando em quem está do outro lado do livro. Não existe uma fórmula para chegar a um bom resultado em um concurso importante. Existe, sim, muita dedicação e compromisso com a matéria escrita. Escrever dá trabalho e, quanto mais escrevemos, mais autocríticos nos tornamos. Acho que o segredo está aí.

Marcelo: Acredito que a gente vai amadurecendo a cada livro. Este é um livro que sinto orgulho de ter escrito porque percebo um melhor uso das ferramentas técnicas que aprendi ao longo do tempo. Também acho importante que seja um livro que, mesmo enquadrado como juvenil pelos protagonistas e temática juvenil, possa ser lido e ser significante para leitores de todas as idades.

Mario: Acredito que nos ensina que participar de concursos é uma grande oportunidade para dar destaque a sua obra. Isso cria na memória do escritor a rotina de buscar pelos concursos que melhor acolhem sobre aquilo que você escreveu. São muitos os concursos e cada um se destina a um propósito. Agora, ler os livros premiados amplia a visão do escritor para cuidados técnicos e temáticas que estão tendo uma maior abordagem na escolha dos jurados. Há dois anos comecei a comprar alguns livros premiados para entender melhor o sucesso do livro. Com certeza está ajudando muito a melhorar a minha narrativa e a evoluir na forma de como escrevo e apresento minhas histórias.

Como o fator prazo influencia no planejamento de uma obra? Qual foi o tempo para planejar e elaborar o seu livro?

Adriana: Eu gosto de prazos. Para o meu processo criativo, eles são importantes porque me forçam a ter uma rotina de escrita e, em consequência, me torno mais produtiva. Tempos atrás, participei de uma seleção de contos para uma antologia. Em férias, não vi o tempo passar. Só consegui focar na produção do texto poucos dias antes de acabar o prazo. Sentada diante do computador, me obriguei a criar uma história digna do livro e da editora. Suei bastante, mas o resultado foi positivo. No caso do “Clube do Rock”, foi tudo diferente porque o prazo só apareceu quando o livro estava quase pronto. A história foi construída por meio de narradores alternados. Cada um de nós desenvolveu um personagem, e começamos a trocar textos. Eu escrevia um capítulo, enviava para o Marcelo e esperava pelo capítulo dele para dar continuidade à narrativa. Trabalhamos por alguns meses sem a pressão de uma data definida, embora tivéssemos o desejo de terminá-lo antes do final de 2019. O processo de construção e elaboração fluiu com bastante tranquilidade, e o resultado do trabalho me deixou muito feliz.

Marcelo: Não se pode escrever um livro com pressa, embora seja importante estabelecer alguns prazos para que a ideia não perca fôlego, não se arraste demais. Este livro começamos a escrever em meados de 2019, e a primeira ideia era lançar na Feira do Livro daquele ano. Acabou atrasando o processo, até em função de ser um livro a quatro mãos, e apenas a partir de dezembro que deslanchou, ficando pronto em meados de 2020. Optamos por lançar apesar da pandemia, mas o reconhecimento tem chegado mesmo em 2021, com o Prêmio Jabuti, o Prêmio AGES e a visibilidade que o livro teve na Feira do Livro, ficando entre os 5 mais vendidos do estande da Editora Metamorfose.

Mario: Sou metódico e organizado, até demais. Eu faço um cronograma, planejo com uma assessoria de comunicação e com a organizadora dos originais que acompanha o meu trabalho o tempo para a entrega e publicação de cada livro. Com relação aos concursos, os livros inscritos sempre são os produzidos no ano anterior, neste caso não influência em nada. Mas na produção em si e no lançamento, a escrita trava uma luta constante com os compromissos do trabalho, família, negócios e outras atividades. Geralmente quem sai perdendo é sempre a escrita, é a atividade que acaba sofrendo o maior boicote frente aos outros compromissos. Neste ano de 2021 foi possível lançar três publicações, duas de ficção e um livro acadêmico, com certeza o confinamento pela pandemia colaborou para que isso acontecesse. Mas, quando inicio a escrever, costumo produzir um capítulo concluído e revisado a cada semana, levo de três a quatro meses para concluir um livro de 300 páginas.

Como você lida com a ansiedade e a vontade de ganhar ou de se ser finalista de um concurso?

Adriana: Eu sou uma pessoa ansiosa por natureza. A espera é sempre um trauma. Mas quando me inscrevo para um concurso, uma serenidade vinda não sei de onde faz com que eu amenize um pouco a impaciência. Por ser um processo demorado, é preciso desligar porque não adianta ter pressa. O legal disso tudo é que, de tanto esperar, acabo esquecendo. Nos concursos em que me classifiquei como finalista, o resultado veio através das felicitações de amigas ou amigos. Eles ficaram sabendo antes de mim.

Marcelo: No começo eu era muito inseguro em relação ao meu trabalho, talvez por ter começado muito novo, talvez por vaidade, então havia uma certa ânsia pelos concursos e admiração pelas pessoas que os conquistavam. Só que eu, com exceção do Prêmio AGES, patinava e não conseguia relevância nos concursos. Aí com o tempo relaxei quanto a isso, entendi melhor a dinâmica do meio literário e, aos poucos, naturalmente, começaram a vir alguns prêmios surpreendentes, que vistos em conjunto me enchem de orgulho: finalista do Açorianos, finalista do Jabuti e Prêmio Livro do Ano AGES, ou seja, o livro mais votado entre todas as categorias.

Mario: Acho que não fico ansioso, mas sim, com o desejo. É como você ir à lotérica e jogar, é óbvio que a partir dali você tem a expectativa de ganhar, mas, com o passar do tempo, essa aposta semanal vira rotina e você passa a lidar com isso naturalmente, até o dia em que você é sorteado e daí sim se conecta com a importância do prêmio. Os concursos causam o mesmo efeito em mim, não imaginei ser indicado ao prêmio Jabuti, mas fiquei muito feliz e isso me motivou muito a continuar escrevendo. Quem sabe uma hora dessas um livro meu possa ser o vencedor de um concurso. Os efeitos da indicação valem tanto quanto ganhar o prêmio. No caso do Jabuti, na semana em que fui indicado, não foram poucos os contatos de editoras, jornais, rádio, sites, outros escritores, muitos elogios, algumas oportunidades surgiram a partir daí.

Você acredita que ganhar ou ser finalista de um concurso literário pode mudar a vida de um escritor? Quais os benefícios deste reconhecimento, na sua opinião?

Adriana: Com certeza. Um finalista ou vencedor de um concurso ganha, literalmente, um selo de aprovação. Esse reconhecimento do meio literário dá uma grande visibilidade a autoras e autores. Além disso, você adquire uma maior autoconfiança em relação à própria escrita. Você sabe que fez um bom trabalho, e isso é muito gratificante. Todas as suas inseguranças são postas de lado. Por um tempo. Depois da euforia, vem a pressão. Você passa a ter maior exigência com relação àquilo que produz. A responsabilidade aumenta porque a sua autocrítica também aumenta. A pressão cresce porque você quer manter a boa qualidade, você se sente na obrigação de manter o nível bem elevado nas suas produções. Isso é positivo porque serve como estímulo. Você sabe que chegou lá e quer ficar. Mas vai precisar de muito trabalho e dedicação. Não existe outro caminho. E, mesmo assim, não há garantias.

Marcelo: Um prêmio não muda objetivamente, pelo menos não a maioria dos prêmios (talvez ganhar um Jabuti ou um Prêmio SESC mude). Mas o conjunto de prêmios começa a dar credibilidade para um autor, uma editora. E, claro, o prêmio motiva demais, então é natural que um reconhecimento desses te motive a continuar trabalhando, escrevendo, divulgando. O risco é ficar refém dos prêmios, frustrar-se por não figurar neles com determinado livro, pois não podemos perder de vista o quão difícil é para um livro se destacar entre as centenas que são produzidos todo ano.

Mario: Então, a indicação mostra que você está no caminho certo, que também é uma possibilidade entre os demais, justo em um segmento tão concorrido e disputado como é o da literatura. Tive muitos pedidos de livrarias que se interessaram em receber o meu livro para expor, os contatos com editores e agentes literários também passaram a ter uma atenção diferenciada. A equipe que me apoia e assessora também se viu mais atenta e pensando em novas estratégias para aproveitar o momento da indicação e divulgar o máximo possível o meu nome e já pensar nos próximos lançamentos e de como esta indicação poderá ajudar a promover os novos livros. Isso tudo tem muita importância sim.

Como está repercutindo na sua vida o fato de ser um dos finalistas do Jabuti? Nos conte um pouco sobre essa experiência.

Adriana: Antes mesmo de iniciar os primeiros capítulos do “Clube do Rock”, eu já estava muito animada com a ideia de escrever a quatro mãos. Havia uma expectativa grande em relação à história. Quando terminamos, eu tinha certeza de que daria certo. Mas o “dar certo”, para mim, era que o livro fosse bem aceito pelo público. Sabia do potencial da nossa história, só não ousei pensar em ser finalista do Prêmio Jabuti. Mas aconteceu. Se isso vai transformar a minha vida ou o modo como serei vista daqui para a frente, eu não sei. A grande mudança tem a ver com a autorrealização. O fato de ser finalista de um prêmio que faz parte do nosso patrimônio cultural me leva a encarar os desafios da escrita com mais segurança. Eu sou parte disso. E é lindo quando conseguimos transformar expectativas em momentos reais. Não existe prêmio maior.

Marcelo: Como ele é um livro juvenil, o meu público atual, que são na maioria adultos interessados em ser escritores, não havia dado tanta importância, comprado tanto o livro. Aí com essa indicação, parece que virou, recebi muitas mensagens e muitos querendo ler a história. O que acho ótimo, afinal se um júri reconheceu como um bom texto, é interessante observar o que há no texto que pode ter chamado a atenção desse júri.

Mario: Meu círculo de relacionamento não é grande se comparado aos números de quem usa as redes com êxito. Ele tem limite e consigo ainda contar e reconhecer as pessoas que se aproximam da minha obra e desta segunda carreira como escritor. O livro “O vizinho alemão” é um pedaço da minha infância da década de 1970, sem a tecnologia apresentada no livro, é claro, mas na época, eu tinha 13 anos e era tão moleque como o Augusto, protagonista da história, tanto que ele leva o meu segundo nome. Consegui aproximar os elementos que me encantam numa narrativa juvenil, como a ação, o mistério, objetos tecnológicos, os aprendizados, os sentimentos e o crescimento integral do personagem. Tudo isso aliado a lembranças do meu passado e a um cenário atual que é o bairro onde moro em Porto Alegre, na Zona Sul. Isso tudo mexeu comigo, embora a história seja muito simples, ela tem um ritmo gostoso. Quem já leu o livro elogiou bastante por não ser uma leitura enfadonha, é divertido, tem graça e comicidade, só isso já vale muito. Eu não vivo da venda das obras e sou um doador contumaz dos meus livros, doo mais do que vendo, mas isso me faz bem e os livros que vendo pagam sempre a equipe e a próxima edição. A indicação ao prêmio Jabuti só veio ajudar em tudo isso. Quem já gostava de ler meus livros passou a ter mais admiração, quem nunca leu, no mínimo, ficou curioso e isso já vale bastante. Ou seja, ser indicado foi a melhor e maior surpresa deste ano, um presente em meio a tanta tristeza e perdas para muitas pessoas neste país.

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