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A criança como personagem

Taís Moreira conta nesta entrevista que foi prazeroso e, ao mesmo tempo, desafiador criar os personagens crianças em seu livro “Pequenos Grandes Nós”, que será lançado no dia 10 de novembro, às 17h30, na Feira do Livro de Porto Alegre. No livro, os personagens vivem a travessia de suas infâncias em diferentes épocas e contextos, dos Anos de Chumbo até nossa Era Digital. Taís Moreira é professora e escritora e, para ela, falar de infância e ter um olhar atento para as crianças faz parte de sua profissão.

Confira a entrevista completa abaixo.

Como foi para você criar personagens crianças no seu livro?

Foi prazeroso e desafiador. Foi prazeroso porque falar de infância e ter um olhar atento para as crianças faz parte da minha profissão e da minha vida e isso reflete nas minhas escolhas de leituras e escritas. Para iniciar esse, que seria um processo de escrita novo para mim, acho que ter um bom repertório de observações e leituras na temática me ajudou muito. Entretanto, foi desafiador passar para o papel as histórias que eu criava. Me preocupava em dar voz aos personagens sem tornar o livro infantil e, ao mesmo tempo, não impor uma visão ou solução de um adulto sobre os conflitos dos contos. Queria, mesmo com personagens ainda na fase inicial da vida, tratar de questões humanas e históricas que ainda nos trazem grandes questionamentos. As escolhas narrativas de forma, narrador e linguagem utilizadas em cada conto também foram desafios nesse processo.

Qual diferença você destacaria entre a criação de personagens crianças e personagens adultos?

As crianças se comunicam de maneiras mais diversas do que os adultos. Elas podem nos dizer bem mais com seus movimentos, brincadeiras ou silêncios do que verbalizando um sentimento ou pensamento. Na criação de um personagem criança devemos estar atentos à escuta dessas outras linguagens. Outra diferença que acho importante é que um personagem adulto traz uma bagagem de conhecimentos, preconceitos, culpas e vivências bem maior do que um criança, podendo ele próprio nos explicar o que acontece na história e porque age de determinada maneira. Já com uma criança ou adolescente como personagem central, é mais provável que tenhamos um subtexto maior, pois como adultos saberemos, por exemplo, de um conflito histórico que a personagem está passando mesmo que ela não tenha tanto discernimento dele. Nesse caso, devemos dar pistas para o leitor fazer o paralelo entre o que está acontecendo de fato e o que a criança está entendendo ou interpretando daquilo.

O que é necessário levar em consideração na hora de criar um personagem criança?

Para qualquer personagem é importante escutar e observar as pessoas a nossa volta e na própria ficção. Aprendemos que para construir bons personagens precisamos descobrir o que os motiva,como agem e reagem, quais seus medos e características que o tornam único. Em personagens adultos podemos ter muitas dessas respostas imaginado uma conversa, por exemplo, ou observando o que as pessoas nos dizem. Já para uma personagem criança temos que estar atentos a uma linguagem que nem sempre é verbal. Nesse sentido, para esse tipo de personagem é bem mais importante mostrar do que dizer. Para isso, além de pensar as questões motivacionais da personagem, temos que nos perguntar como ela se movimenta, como e com quem brinca, quando e por que fica mais inquieta ou mais introvertida. Outra questão que devemos levar em consideração é como o personagem criança vê o mundo ao seu redor e seus próprios conflitos. É importante baixarmos um pouco o nosso olhar para alcançar a visão da criança, ter a empatia de fazer com que a forma dela enxergar prevaleça no texto.


Qual personagem criança da literatura mais te marcou?

Foram muitas personagens que me marcaram. Tiveram três livros que, aos poucos, me fizeram voltar a ler: A Menina que Roubava Livros, O Caçador de Pipas e Guerreiros da Esperança. Com o tempo,percebi que esses livros tinham em comum bons personagens crianças. Atualmente tenho focado minhas leituras em autores brasileiros e estou encantada por três personagens: Lumbiá da Conceição Evaristo; João do Jeferson Tenório e a clássica Raquel da Lygia Bojunga.

Como foi o seu processo de escrita do livro Pequenos Grandes Nós?

Eu já havia escrito uns quatro contos quando decidi que poderia fazer um livro com foco em
infâncias. A ideia de dividir por décadas veio logo em seguida por causa de um conto dos anos 60 que eu já tinha. Um tempo depois pensei em ter um personagem para cada década e na quantidade de contos que teria o livro. A maior dificuldade que encontrei não foi em pensar no que escrever ou como contar determinado conto, mas em colocar essas ideias no texto. De início eu tinha uma preocupação poética de encontrar a “palavra certa” para cada parte e isso bloqueou um pouco a minha escrita. Para solucionar esse problema, coloquei um prazo curto para concluir a escrita do livro e me obriguei a escrever todos os contos em que eu já tivesse pensado no conteúdo e na forma, mesmo que eu não encontrasse naquele momento as melhores palavras. Isso me ajudou muito porque intensifiquei o meu ritmo e conheci melhor meus personagens, a ponto dos demais contos surgirem com facilidade. Após escrever a primeira versão do livro, fiquei quase quatro meses sem olhar para ele. Quando surgiu a oportunidade de publicação, eu revi com certo distanciamento tudo o que escrevi. Corrigi e modifiquei algumas partes e acabei me apaixonando pelos personagens do livro. No fim desse processo, ainda tenho dúvidas sobre a minha escrita e sei do muito que tenho que melhorar. Porém, se teve algo que me deixou muito satisfeita com a escrita desse livro foram os personagens. Talvez eu até resgate um deles para um romance daqui a um tempo.

 

 

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